Introdução
Pedir um feedback é fácil, receber — e aplicar de verdade — já é bem diferente. Mesmo entre profissionais criativos acostumados a defender ideias, poucos se sentem genuinamente confortáveis diante de críticas, ainda que construtivas. E quando falamos de processos seletivos para UX/UI Designers, esse desconforto pode se intensificar: o portfólio é revisado, trajetórias são questionadas, posicionamentos são discutidos. Como transformar esse cenário? O segredo está em enxergar cada orientação dos recrutadores como um verdadeiro aliado: uma ponte entre o profissional que você é hoje e o profissional que o mercado busca. Neste artigo, vamos entender como seus processos seletivos podem (e devem!) ser grandes oportunidades de evolução, desde que você saiba receber, interpretar e aplicar as críticas e sugestões que recebe pelo caminho.
Adequando-se à vaga
Quem nunca quis impressionar mostrando tudo que sabe fazer? É tentador apresentar a totalidade de experiências — de áreas, setores, estilos e tipos de projeto — na esperança de ampliar ao máximo as chances em uma vaga. Mas esse é um erro comum, especialmente entre UX/UI Designers: tentar abraçar o mundo pode diluir o que realmente importa para a posição que está aberta.
O caminho mais inteligente é a “adequação à vaga”. Isso significa olhar com atenção para o que a empresa realmente está buscando e adaptar não só seu portfólio, mas também discurso e perfil para essas necessidades específicas.
Não ter experiência no segmento da vaga? Isso, por si só, não elimina você. Pelo contrário: ao evidenciar outras qualidades e saber contextualizá-las, você demonstra maturidade, abertura e inteligência estratégica. A capacidade de adaptação e o raciocínio na curadoria do próprio material já marcam pontos importantes para quem avalia. Adequar-se não é sobre moldar-se sem personalidade, mas sobre usar seu repertório com intenção — mostrando-se preparado para contribuir, mesmo diante de desafios fora da sua zona de conforto.
Recomendações práticas para tornar as orientações mais efetivas
a) Alinhamento de expectativas
Se um recrutador foi atrás de você, significa que existe interesse real no seu perfil. Este é o melhor ponto de partida.
Saber ouvir as orientações que vêm depois dessa abordagem é essencial: são ajustes pensados justamente para impulsionar sua candidatura. Entenda que o processo seletivo é colaborativo, não uma prova de resistência. Resistir sistematicamente às sugestões ou não demonstrar abertura pode ser interpretado como falta de interesse ou desalinhamento de valores — algo nada positivo para quem quer avançar no processo.
b) Alinhamento de portfolio
Relevância é palavra de ordem. Destacar projetos mais antigos ou menos detalhados, desde que estejam mais conectados com a vaga, faz todo sentido. O recrutador precisa enxergar no seu portfólio exatamente o que está buscando — por isso, a curadoria cuidadosa do material apresentado vale tanto quanto os próprios projetos. Organize seu portfólio de forma prática, guiando o olhar para os cases que dialogam diretamente com a necessidade da empresa. Assim, evita interpretações equivocadas e direciona a avaliação para aquilo que realmente importa.
c) Evitar subqualificação ou superqualificação
Cada vaga tem seu tom de profundidade. Apresentar apenas telas finais e resultados visuais pode desinteressar uma empresa que espera ver seu raciocínio estratégico e capacidade analítica. Por outro lado, ir fundo demais pode soar deslocado em vagas mais técnicas ou de entrada, onde se espera resolução de tarefas mais objetivas. O ideal é calibrar a exposição do conteúdo — nem menos, nem mais; na medida da maturidade em design que o time e a vaga demandam.
d) Trabalhar o discurso pessoal
Nas fases iniciais do processo, o foco deve ser profissional. Preferências pessoais são importantes, mas precisam dar lugar à clareza sobre suas competências e objetivos. Evite títulos ou descrições genéricas (ou inconsistentes) com a vaga; alinhe sua autoapresentação para que sua trajetória “converse” diretamente com o que está em análise. Confiança não é sobre inflar o próprio título, mas sim sobre ser verdadeiro em relação ao que você oferece e deseja. Isso torna a comunicação mais fluida e evita ruídos e expectativas desalinhadas.
Seja rebelde, não arrogante
Sua postura “chega” antes de você em todo processo seletivo — seja em mensagens, e-mails, entrevistas ou até na entrega do portfólio. Empresas (especialmente em design) estão atentas a padrões comportamentais que possam representar riscos ao ambiente de trabalho e à colaboração.
Lembre-se: aceitar uma vaga não é submissão, é uma escolha mútua. A empresa vê valor no seu potencial e aposta em você. Em troca, espera não só competência técnica, mas atitude colaborativa e espírito construtivo.
Seja questionador quando necessário, mas evite posturas combativas ou de resistência desnecessária. O candidato estratégico é aquele que está disposto a construir junto — ajustando, sugerindo e, acima de tudo, escutando.
O que você está disposto(a) a fazer para ser contratado?
Aí está a pergunta central: até onde você se dispõe a ajustar seu discurso, seu portfólio e seu modo de apresentar para conquistar uma vaga? O processo começa com o interesse da empresa, mas a real conversão depende do seu preparo, da sua escuta ativa e da sua disposição para crescer.
Encare cada crítica — ainda que dolorosa — como um convite à evolução. Investigue o contexto, estude a empresa, questione-se sobre os pontos levantados e aja continuamente em busca de melhoria. Não é só sobre “passar” numa seleção; é sobre se tornar, a cada feedback, um(a) profissional mais completo(a) e mais pronto para entregar valor onde for atuar.
Conclusão
Todo processo seletivo é, também, um processo de aprendizagem. Mesmo que não leve à contratação, sempre há uma lição — e uma nova possibilidade de ajuste e aprimoramento. Receber críticas com humildade (e agir rapidamente para implementá-las) faz parte do desenvolvimento de uma carreira sólida e resiliente. O crescimento está justamente em transformar cada orientação em degrau para seu próximo salto.